Economia Criativa com Gina Paladino – nº 05 “Dez/23”

Cidades e Clusters Criativos Inspiradores

Novas políticas públicas e principalmente parcerias público-privadas têm sido implementadas em diversas cidades em todo o mundo visando estimular o surgimento de projetos urbanos sustentáveis de empreendimentos criativos de alto impacto.

Destacam-se algumas delas: definições apropriadas do zoneamento urbano, revitalização de antigas áreas e construções degradadas, fortalecimento de centros culturais, espaços para acolher empreendimentos criativos, galerias de arte, bibliotecas informatizadas e midiáticas, salas de cinema e demais empreendimentos de audiovisual, museus, ampla infraestrutura de conectividade, mobilidade diversificada e eficiente, incubadoras de empresas inovadoras, aceleradoras, espaços coworking, áreas verdes, entre outras.

Além de Barcelona, uma cidade icônica e precursora na implementação de projetos urbanos da Economia Criativa, selecionamos alguns exemplos de cidades e clusters inspiradores.

  • LX FACTORY: o Soho de Lisboa

No ano de 1846 a Companhia de Fiação e Tecidos Lisbonense, um dos mais importantes complexos fabris de Lisboa, instala-se no bairro de Alcântara. Nos anos subsequentes esta área industrial de 23.000m2 é ocupada pela Companhia Industrial de Portugal e Colônias, tipografia Anuário Comercial de Portugal e Gráfica Mirandela. A partir da segunda metade do século XX, com a diminuição das atividades fabris, o espaço vai se degradando.

Somente em 2005, após décadas de abandono desse bairro, começaram as transformações por meio da instalação de centenas de empresas de design, de artes e publicidade, lojas, restaurantes e livrarias. A partir de 2008 esta região, batizada de LX FACTORY, transformou-se em uma geradora de riqueza e ótima opção de passeio, gastronomia e consumo.

Lá também existe um espaço de coworking que abriga empresas dos segmentos criativos. Aos domingos funciona o LX Rural, uma feira de produtos orgânicos e biológicos disponibilizados diretamente dos produtores.

LX FACTORY vem se transformando em um lugar da moda, que atrai principalmente a juventude local, profissionais criativos e turistas. O horário de abertura é extenso e os restaurantes funcionam até tarde. As lojas são focadas em objetos vintage, fashion, em novos conceitos.

Uma parte de Lisboa, que durante anos permaneceu escondida, foi devolvida à cidade na forma de um cluster aberto ocupado por empresas e profissionais criativos. O local também tem sido palco de acontecimentos nas áreas da moda, publicidade, comunicação, multimídia, arte, arquitetura, música, etc., gerando uma dinâmica de atração a um número crescente de visitantes.

LX FACTORY apresenta-se como uma “fábrica de experiências onde é possível intervir, pensar, produzir, apresentar ideias e produtos num lugar que é de todos, para todos.”

  • Buenos Aires: revolução urbana criativa

Buenos Aires passou por uma verdadeira revolução no transporte público, com o BRT, bicicletas públicas e muitos projetos que transformaram a cidade na última década. Mais recentemente, apesar de o país viver um momento complexo na política e na economia, a cidade elegeu a Economia Criativa, especialmente o design, para induzir o desenvolvimento de alguns bairros menos favorecidos, por meio do planejamento urbano, econômico e social de longo prazo.

Foram definidos quatro bairros, chamados de Distritos Criativos – tecnológico, audiovisual, de design e das artes – a partir de projeções de setores que já apresentavam algum peso econômico. No distrito tecnológico, por exemplo, não havia empresas de tecnologia, agora são quase 300.

A discussão geral da Economia Criativa deve fazer parte dos novos modelos e instrumentos de planejamento urbano das cidades na medida em que pode agregar simultaneamente as dimensões econômica e social, especialmente nos bairros menos favorecidos. A experiência que vem sendo implantada em Buenos Aires segue este modelo e por isso merece ser acompanhada.

  • Medellín: da mais violenta à mais inovadora

Nos anos 90 Medellín viveu um ápice de violência urbana principalmente devido aos conflitos com o narcotráfico. A média de homicídios chegou a quase 7 mil por ano. Para reverter a situação, junto com o combate armado vieram também os educadores, que impulsionaram os projetos tecnológicos, pedagógicos, culturais, urbanísticos, etc.

A cidade passou a investir, sempre em parceria com empresas e instituições, em infraestrutura (escadas rolantes a partir dos morros, teleféricos e metrô), museus, bibliotecas informatizadas, escolas de qualidade nos bairros mais pobres, hortas comunitárias sustentáveis, projetos de arquitetura e urbanismo, etc.

Paralelamente a tudo isso foi realizado um programa de inovação (Ruta N) destinado à capacitação em larga escala de empreendedores em negócios digitais, Economia Criativa e biotecnologia, além de estimular sinergias entre empresas e a academia.
Outros instrumentos importantes foram criados, tais como aceleradoras de inovações e ideias e acesso a capital inovador.

Em 2013 Medellín recebeu o título de “Cidade Mais Inovadora do Planeta”, segundo o Wall Street Journal, também graças a parcerias do governo com empresas e instituições que vêm fomentando a inovação e criando soluções para problemas clássicos da região.
Apesar de ainda haver muito a fazer, as desigualdades econômica e social de Medellín estão diminuindo e o índice de homicídios caiu radicalmente. Além disso, os projetos da Economia Criativa e culturais avançam de forma sustentável, inclusive nas comunidades.

O Brasil precisa aprender várias lições com Medellín, que em pouco mais de duas décadas ganhou um novo destaque internacional e hoje atrai milhares de turistas e visitantes, ansiosos por conhecer suas experiências inspiradoras.

  • Porto Digital: Recife/PE

Porto Digital é um parque tecnológico e criativo localizado na cidade de Recife, com atuação nas áreas de tecnologia da informação e comunicação e economia criativa. Foi fundado no ano 2000 com os objetivos de reter profissionais qualificados na cidade e revitalizar o bairro Recife Antigo, uma região histórica que à época estava altamente degradada. Foi viabilizado inicialmente com um aporte de R$ 33 milhões provenientes da privatização da Companhia Energética de Pernambuco.

Atualmente, os seguintes fundos de investimentos têm atuação destacada no Porto Digital: IKEWAI – Investimentos e Participações, Fundo CRIATEC, Saints Investimentos, Triaxis Capital, FIR Capital, Inseed Investimentos e Tynno Negócios e Participações. Além desses fundos, o Porto Digital conta com as seguintes aceleradoras de negócios: JUMP Brasil, CESAR Labs, Overdrives e CMTech Labs.

Esse projeto é considerado um importante cluster mundial de tecnologia e criatividade, em especial devido ao seu modelo inovador de governança público-privada. Além de indutor dos negócios de base tecnológica, o Porto Digital também é reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (IPHAN), por sua atuação na revitalização do patrimônio histórico do Recife Antigo.

Em 2013, ampliou sua área de atuação para as empresas de economia criativa, abrangendo as áreas de jogos eletrônicos, audiovisual, música e design. Desde sua fundação, o Porto Digital conseguiu recuperar mais de 80 mil metros quadrados de prédios históricos e abrigar mais de 300 empresas, institutos de pesquisa e incubadoras que representaram, em 2017, um faturamento total de R$ 1,7 bilhão e empregaram 9 mil pessoas. O Porto Digital é um case de grande sucesso no Brasil e merece uma visita dos especialistas na área.

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