ECONOMIA CRIATIVA com Gina Paladino – nº 01 “Economia Criativa e Desenvolvimento”

por Gina Gulineli Paladino* – SOFTSUL  07 de agosto de 2023

Em um contexto de desindustrialização nos países europeus quando as indústrias tradicionais estavam sendo fechadas devido à concorrência asiática, o Departamento de Cultura, Mídia e Esportes (DCMS) da Grã-Bretanha divulgou, em 1998, um estudo sobre a economia criativa mostrando seu potencial para a geração de empregos de alto valor, renda acima da média do mercado e crescente peso nas exportações. As atividades econômicas contempladas neste relatório tinham a criatividade como principal insumo produtivo e por isso se tornou um marco na conceituação da economia criativa e indispensável leitura para os iniciantes no tema. 

Na sequência, especialistas de diferentes países incorporaram elementos mercadológicos de propriedade intelectual em que marcas, patentes e direitos autorais também auxiliam na transformação da criatividade em produtos e destacaram o surgimento de uma nova classe de trabalhadores, denominada classe criativa, com grande potencial de contribuição para a geração de riqueza e valor econômico.  Até então, essa classe criativa era avaliada quase que exclusivamente pelo seu papel nas atividades estritamente culturais e artísticas.   

Após uma década de experiências realizadas em diversos lugares do mundo, a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento – UNCTAD publicou, em 2008, o primeiro estudo de abrangência internacional demostrando que as exportações mundiais dos segmentos criativos já superavam US$ 500 bilhões.  

A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) defende que a “economia criativa é um dos setores mais dinâmicos do comércio internacional, gera crescimento, empregos, divisas, inclusão social e desenvolvimento humano. É o ciclo que engloba a criação, produção e distribuição de produtos e serviços que usam o conhecimento, a criatividade e o ativo intelectual como principais recursos produtivos”.

Uma dificuldade de quantificar a economia criativa está na ausência de fontes estatísticas apropriadas e regulares. A grande proporção da informalidade desses negócios, especialmente nos empreendimentos nascentes e de pequeno porte, também contribui para sua difícil mensuração. Além disso, a economia criativa está crescendo com novos modelos de negócios ainda não facilmente capturados pelas estatísticas tradicionais, tais como as startups, modelos colaborativos e “pejotização”.  

No Brasil, o primeiro estudo foi realizado em 2008 pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN), com o título ‘A Cadeia da Indústria Criativa no Brasil’. Os segmentos nucleares da Economia Criativa são os seguintes: Arquitetura; Artes Cênicas; Audiovisual; Design; Editorial; Expressões Culturais; Moda; Música;  Patrimônio e Artes;  Pesquisa & Desenvolvimento;  Publicidade e TIC. 

O estudo da FIRJAN referente a 2017 demonstrou que o PIB da economia criativa representou 2,61% do PIB total do Brasil, ou cerca de R$ 172 bilhões. Neste mesmo ano mais de 830 mil profissionais criativos estavam empregados no mercado de trabalho formal, sendo a maioria vinculados aos 245 mil estabelecimentos dos segmentos criativos e o restante nos demais setores produtivos. 

O PIB médio da economia criativa brasileira cresce desde quando começou a ser medido em 2004, sendo o valor máximo de 2,64% do total em 2015, mesmo considerando os períodos em que a economia em geral enfrenta grande crise econômica. Os estados de São Paulo e Rio de Janeiro são os que apresentam os maiores PIB da economia criativa, cerca de 4%.

O crescimento da economia criativa em todo o mundo também está ligado à transformação digital e à valorização da experiência dos consumidores. Por consequência, as profissões criativas estão em alta: mídias digitais, promoção da imagem das empresas, relações públicas, inovação no consumo, etc. Não é por acaso que os profissionais criativos, usualmente mais qualificados, recebem remunerações bem acima da média dos demais trabalhadores. 

De acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID se a economia criativa fosse um país, teria o 4º maior PIB de US 4,4 trilhões de dólares e 144 milhões de pessoas empregadas. A Organização Mundial do Trabalho – OIT cita que o crescimento anual do mercado criativo deve girar entre 10% e 20% nos próximos anos em todo o mundo. Além disso, a criatividade tornou-se uma das aptidões mais desejadas nos profissionais do século XXI, segundo os relatórios sobre o futuro das profissões publicados pelo Fórum Econômico Mundial.

Inspirados nas pioneiras experiências australiana (Creative Nation/1994) e britânica (Creative Industries Mapping Documents/1998) inúmeros países iniciaram seus mapeamentos de potenciais econômicos criativos, bem como a identificação de políticas públicas de estímulos ao crescimento da economia criativa. Atualmente existem diferentes instrumentos públicos testados em todo o mundo pelos governos centrais, regionais e locais, além de parcerias público-privadas e iniciativas exclusivamente privadas.

Nesse contexto existem oportunidades diferenciadas para o Brasil avançar no desenvolvimento da economia criativa especialmente por meio de marcos regulatórios e incentivos em geral. As experiências da Inglaterra, Austrália, Portugal, Espanha, Colômbia e Escandinávia, entre outras, são fontes de inspiração. Internamente também se encontram bons exemplos tais como os das cidades de Recife, na área do Porto Digital, e Florianópolis.  

Assim sendo, é necessário que tanto os setores públicos quanto o privado passem a fomentar cada vez mais a economia criativa e a pensar o desenvolvimento como sendo um processo relacionado às capacidades criativas das pessoas. Países e organizações estão colocando em prática estes ensinamentos e demonstrando que o aumento dos investimentos na economia criativa também contribui para o desenvolvimento social por meio do crescimento da autoestima individual, do bem-estar das comunidades e da qualidade de vida em geral. 

  • A partir desta edição do Informativo da SOFTSUL serão publicados Artigos sobre Economia Criativa, com Gina Paladino*, que é formada em Economia pela UFPR, Mestre na UFMG, D.E.A. na Universidade de Paris, com cursos de especialização e extensão no Brasil, França, Japão e Suíça.Esta coluna trará contribuições relevantes sobre Economia Criativa, uma vez que Gina Paladino é reconhecida como palestrante no país e no exterior, com diversos artigos publicados. É autora do livro Economia Criativa recém lançado e disponível na AMAZON.
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