ECONOMIA CRIATIVA com Gina Paladino – nº 02 “Cidades Criativas”

Gina G. Paladino – Projeto SOFTSUL – Agosto 2023

As cidades mais competitivas do mundo estão cada vez mais dominadas por inovações que substituem recursos naturais não renováveis pelos talentos do ser humano como insumo básico das suas economias. Assim sendo, a vitalidade empreendedora e criativa das pessoas se transforma no ativo essencial que garante a competitividade das cidades e, por consequência, a qualidade de vida das comunidades no mundo globalizado.

Neste contexto, as estratégias de desenvolvimento das cidades visando posicioná-las no patamar de cidades inovadoras requer uma série de novos instrumentos que garantam a retenção de talentos, capacitação de jovens empreendedores e pessoas criativas, atração de empresários e de investimentos, diversificação da matriz produtiva, ampliação da diversidade social e fortalecimento de projetos culturais.

Empresas nascentes inovadoras, mão de obra educada e qualificada, ampla e eficiente infraestrutura de conectividade, produtividade elevada e renda média alta, bem como qualidade de vida são algumas das principais características das cidades contemporâneas desenvolvidas em todo o mundo que tem sua economia baseada principalmente em serviços de alto valor agregado.

As cidades são o habitat por excelência das classes criativas e dos empreendedores inovadores e, por isso, grandes protagonistas do desenvolvimento econômico e social.  Para o espanhol Jordi Pardo, “no início do século XXI, uma Cidade Criativa é um sistema social, cultural e econômico no qual a criação de oportunidades, prosperidade e riqueza está baseada na habilidade de gerar valor com a força de ideias, informação, conhecimento e talento. Ela promove os elementos de um ecossistema sociocultural que é parte do sistema produtivo, no qual os centros de treinamento, informação, pesquisa, bem como as áreas tradicionais da cultura e as atividades econômicas de todos os setores interagem para gerar valor e riqueza e melhorar a coesão social, a qualidade de vida e a atratividade da cidade como um cenário econômico e vital.”

Ou seja, as cidades criativas se destacam pelas inovações urbanas e empresariais, conexões presenciais e virtuais, relevantes bases culturais e ações de longo prazo. A colaboração urbana é uma das forças mais poderosas na mudança social contemporânea porque impulsiona modelos de negócios colaborativos que requerem ambientes empresariais compartilhados, boa infraestrutura de conectividade e novas formas de financiamento.  A produção dessa nova economia resulta cada vez mais em produtos e serviços intangíveis, mais altos salários e rentabilidade acima dos demais segmentos da economia.

Classificados nas áreas de serviços, os segmentos da Economia Criativa – Arquitetura, Artes Cênicas, Audiovisual, Biotecnologia, Design, Editorial, Expressões Culturais, Moda, Música, Patrimônio e Artes, Pesquisa e Desenvolvimento, Publicidade, Tecnologias da Informação e Comunicação – TIC (desenvolvimento de software, sistemas, consultoria e robótica aplicados aos segmentos criativos) – são considerados de mais alto valor agregado e de maior impacto nas novas estratégias de desenvolvimento econômico e social. Eles apresentam maior capacidade de gerar empregos, principalmente entre os jovens e, se bem articulados e apoiados, são propulsores de inovação e da ampliação da capacidade produtiva do conjunto da economia.

A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FECOMERCIOSP) divulgou pela primeira vez no Brasil, em 2012, o Índice de Criatividade das Cidades. O indicador tem como objetivo fornecer informações relevantes para a adoção de medidas públicas, focadas na criatividade, capazes de gerar avanços efetivos no nível de competitividade e na economia dos municípios.

Para chegar ao índice, foram considerados fatores econômicos, sociais e de potencial criativo das 50 maiores cidades do país ao longo de 2011. Este indicador confirma que as cidades com melhores condições socioeconômicas têm maior potencial para atrair e reter talentos criativos. Por outro lado, algumas cidades com grande potencial criativo entre as pesquisadas não aproveitam esta condição para alavancar o desenvolvimento econômico ou gerar melhorias em qualidade de vida e benefícios para sociedade.

A Fundação do Desenvolvimento Administrativo (FUNDAP) do Município de São Paulo divulgou em 2011 um estudo denominado “Economia Criativa na Cidade de São Paulo: Diagnóstico e Potencialidade” no qual demonstrou que em 2009 a Economia Criativa era responsável por 3% de todo o emprego formal da cidade e sua dinâmica de desenvolvimento era mais acelerada do que a dos demais setores. Í

Em 2013 o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES) realizou uma pesquisa que identificou cerca de 22.000 trabalhadores formais empregados nas empresas criativas em Curitiba, sendo 3.800 da classe criativa. O salário médio dos profissionais criativos do mercado formal de trabalho da cidade foi de R$ 3,6 mil (2013), contra um valor médio de todos os setores econômicos de R$ 2,8 mil (2014).

Em outubro de 2015, a Agência Curitiba de Desenvolvimento (ACD), em parceria com o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), elaborou o primeiro mapeamento da Economia Criativa na cidade de Curitiba. O resultado encontrado em termos do número total de estabelecimentos formais criativos foi de 22.009, distribuídos em todos os bairros da cidade. Utilizando a mesma metodologia a cidade de São Paulo contava com um total de 162.400 estabelecimentos, Rio de Janeiro –  61.588, Belo Horizonte – 25.330, Porto Alegre –20.491, Brasília –20.482, etc.

A Rede de Cidades Criativas da UNESCO é um projeto lançado em 2004, para promover a cooperação entre as cidades que reconhecem a criatividade como um fator importante no seu  desenvolvimento urbano nos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais. Atualmente 295 cidades de todos os continentes fazem parte desta Rede que reconhece os seguintes campos criativos: Artesanato e Artes Populares, Artes Digitais, Design, Filme, Gastronomia, Literatura e Música. No Brasil, 12 municípios integram a Rede até o momento: Belém (PA), Florianópolis (SC), Paraty (RJ) e Belo Horizonte (MG), na gastronomia; Brasília (DF), Curitiba (PR) e Fortaleza (CE), em design; João Pessoa (PB), em artesanato e artes populares; Salvador (BA) e Recife (PE), na música; e Santos (SP), no cinema, e Campina Grande (PB), em artes midiáticas.

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