Impactos da Economia Criativa

Artigo SOFTSUL – Gina G. Paladino – novembro de 2023

No Brasil, o primeiro mapeamento dos segmentos criativos foi realizado em 2008 pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN) com o título ‘A Cadeia da Indústria Criativa no Brasil’, o qual vem sendo atualizado e aperfeiçoado periodicamente.  

A sétima edição de 2022, referente aos dados de 2020, pode ser encontrada no link www.firjan.com.br/economiacriativa, aponta para um PIB da economia criativa da ordem de 217 bilhões de reais, similar ao da construção civil e superior ao da indústria extrativa mineral. Houve crescimento do número de profissionais criativos no mercado formal de trabalho para 935 mil mesmo neste período de crise. 

Profissões criativas, tais como os das mídias digitais, promoção da imagem das empresas, relações públicas, inovação no consumo e robótica, estão em alta e recebem salários médios bem acima dos demais trabalhadores. Isso ocorre devido à alta qualificação e à especificidade do trabalho, já que a área demanda profissionais com grau de formação cada vez mais elevados.

Estudos de impacto de toda a cadeia produtiva da economia criativa brasileira ainda necessitam de aprofundamento, tanto em termos de geração de empregos quanto em valor da produção e percentual sobre o PIB, de forma cada vez mais segmentada.

Além disso, conforme afirmação da então Ministra da Cultura, Ana de Hollanda, no documento de apresentação do Plano da Secretaria da Economia Criativa, criada em 2011, a posição do nosso país no mercado global era a seguinte:

“Apesar de ser reconhecido pela sua diversidade cultural e potencial criativo, o Brasil não figura nas pesquisas internacionais entre os 10 primeiros países em desenvolvimento, produtores e exportadores de bens e serviços criativos”.

Ou seja, os nossos produtos e serviços criativos precisam ocupar cada vez mais espaços no mercado internacional visando ampliar significativamente a sua participação no Produto Nacional Bruto (PNB) e com isso contribuir efetivamente para elevar o nível de renda da economia e da sociedade como um todo. Como exemplos, a produção cinematográfica da Ìndia, Coréria do Sul e Argentina demonstra a participação desse dinâmico segmento da economia criativa destes países no mercado global.

Segundo estudo de Lidia Goldenstein (2010),  apesar das evidentes vantagens competitivas dos segmentos criativos, não existem dicotomias entre eles e os demais setores da economia. A esse respeito ela defende uma tese segundo a qual, “a vitalidade da Economia Criativa de um país estimula a criatividade e a capacidade de inovação na economia como um todo. Mas esse forte vínculo depende dos mecanismos de transmissão adequados para encorajar a conectividade e transportabilidade da Economia Criativa para o resto da economia”. E não existem receitas prontas para se construir esses mecanismos de transmissão. Cada país ou região experimenta seus caminhos com diferentes políticas e instrumentos de desenvolvimento.

A Economia Criativa fortalece as empresas de outros segmentos – indústria, serviços e agroindústria em geral – por meio de investimentos em intangíveis (pesquisa e desenvolvimento, software, design, patentes, marcas, etc) que passam a ter maior capacidade de criatividade e inovação em novos produtos, processos, serviços, sistemas, etc.

Portanto, conclui ela, o desafio das cidades, regiões e países não é só encorajar o desenvolvimento das empresas criativas, mas também encorajar todos os demais empreendimentos a se tornarem criativos.

Ela ilustra sua tese utilizando o setor têxtil tradicional que pode ganhar alto valor agregado com a incorporação de design (capital intelectual) nos produtos, processos ou nos materiais e ganhar capacidade de exportação, atração de investimentos, geração de empregos e sobreviver à forte concorrência internacional. Isso vale também para o setor calçadista e outros setores tradicionais da economia.

Do ponto de vista espacial, as atividades criativas podem ser desenvolvidas não apenas nas tradicionais regiões da cidade, mas também em distritos (bairros) mais distantes, que apresentam maior carência de postos de trabalho e oportunidades. Ou seja, o potencial de capilaridade da Economia Criativa é fundamental para complementar as políticas de revitalização urbana. Aliás, isso vem ocorrendo em inúmeras cidades em todo o mundo nos últimos anos, tais como Medellín, Buenos Aires e Lisboa.

Finalmente, Lidia (2010) conclui com um conjunto de propostas de ações de estímulo ao desenvolvimento da Economia Criativa no Município de São Paulo, inspiradas em experiências internacionais de sucesso, de países desenvolvidos ou em desenvolvimento.

O “Mapeamento das Indústrias Criativas do Rio Grande do Sul” foi realizado em 2012, como resultado de uma parceria da Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser (FEE) e a Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção da Inovação (AGDI). A novidade desse estudo foi utilizar dados fiscais como aproximação para identificar o impacto da Economia Criativa em termos de geração da produção. Um dos consultores desse trabalho foi o economista, professor e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Professor Leandro Valiati.

Os segmentos criativos também têm uma relação orgânica com o setor cultural nas suas mais diversas manifestações popular e clássica: artes plásticas, cinema, fotografia, teatro, dança, música, patrimônio histórico e outras. E, portanto, cada vez mais o sucesso de uma economia depende do sucesso da Economia Criativa que, por sua vez, depende do dinamismo do setor cultural.

As sociedades que apresentam níveis educacionais altos têm mais chances de empreender negócios inovadores e criativos. Assim sendo, o papel dos governos em assegurar educação para todos e de qualidade é cada vez mais importante. O crescimento econômico está sendo liderado pela produção baseada no conhecimento, ideias e informação: ativos intangíveis que impõem uma nova agenda aos poderes públicos e perfis distintos aos empreendedores. Um papel importante também está reservado aos institutos de pesquisa e às universidades com suas competências em tecnologia, geração de patentes e inovações em geral.

Nesse novo contexto, as parcerias público-privadas são cada vez mais necessárias para assegurar a rentabilidade dos negócios em moldes diferentes daqueles do passado. E os governos têm papel central no desenvolvimento da Economia Criativa não somente pelo seu papel regulatório (propriedade intelectual, por exemplo), de infraestrutura e principalmente pelo seu envolvimento em todo o sistema educacional e cultural.

Por isso, nos países que estão implementando programas e projetos transformadores nos segmentos da Economia Criativa existem agendas públicas e privadas – locais, regionais e centrais – com instrumentos específicos e complementares que sustentam novas estratégias de desenvolvimento. Para o curto, médio e longo prazo.

Um destaque especial às políticas das cidades com novas definições de zoneamentos, design urbano, fortalecimento de centros culturais, galerias de arte, bibliotecas, salas de cinema, infraestrutura de conectividade, mobilidade, qualidade de vida, entre outras.

Projetos implantados nos últimos anos na China, Coreia do Sul, Taiwan, Singapura, Barcelona, Berlim, Lisboa, Medellín, Buenos Aires e tantos outros locais, sempre contando também com a participação de investimentos privados, estão inspirando cidades e países de todo o mundo. O Brasil, suas regiões e cidades, ainda precisam aprender muito com todos eles!

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